Iniciamos hoje a série com registros em vídeos e fotos sobre as atividades de dança em Portugal. Nossa professora e bailarina Dany Lima, está pros lados de lá, e irá compartilhar com os bailarinos e amigos do Espaço de Dança Belkiss Amorim um pouco de suas vivências e percepções sobre atividades ligadas à dança e também trechos das apresentações.

Vamos lá!

Introdução

(que parece mais o meu diário, rs)

Para abrir esta série eu trouxe pra vocês alguns registros desta primeira apresentação de dança que fui em Portugal. Eu cheguei dia 01/02/2020, resultado de uma decisão conjunta com o Roger, meu parceiro na vida e também na dança, dando início aí a uma nova fase em nossas vidas pessoais e profissionais.

Por muitos anos, desde que formei na faculdade e na pós, isso em 2012, estava meio que num piloto automático com agenda cheia de tarefas e dedicando 90% do meu tempo para o trabalho. Até que em 2017, comecei a fazer Iyengar Yoga, e mais tarde em 2019 fui parceira no Lotus Centro de Bem-Estar e convivendo com terapeutas, comecei um processo de questionamentos internos, onde encontrei coragem para Me conhecer, Me ouvir. Nesse ínterim, num certo dia, o Roger me faz a seguinte pergunta:

– Se você pudesse escolher um lugar no mundo pra morar, onde seria?

Ao ouvir isso, senti como seu eu estivesse saindo de uma cúpula. Opa! Me veio a Índia, a Irlanda, NY na cabeça. Mas por me considerar ainda “imatura” com a língua inglesa, exclamei “Portugal” – e foi mais decido pelo fator “língua” – imaginei que sendo também um país turístico, teríamos aí a oportunidade de exercitar o “inglês”.

E ora pois, pois que cá estamos nessa aventura maravilhosa que decidimos trilhar juntos. Eu ainda estou me aterrisando até hoje… e com um sentimento muito forte de gratidão por ter tido o apoio de toda a minha família, primas, amigos, alunas, clientes…

Estamos morando em Costa da Caparica. Um pequeno grande paraíso que nos oferece tranquilidade e qualidade de vida. Caparica está para Lisboa assim como Lagoa Santa/MG para BH; só que aqui na Costa a gente tem praia, parques, Universidade e asfalto bom, haha!

Praia da Caparica ao fundo. O Roger e eu assistindo o primeiro pôr do sol.

 

E agora vamos ao que interessa, por favor!

Fluidy Body

Folheando uma revista com as atrações culturais de Almada, com quase 90 páginas, circulei tudo aquilo que gostaria de ver, conhecer, etc.

 

 

Até que fomos neste endereço onde aconteceu a performance Fluidy Body, que fica situada numa falésia com vista para o Rio Tejo e a famosa ponte 25 de abril. A apresentação atrasou uns 15 minutos até que ao formarmos a bicha para entrar… (bicha = fila), nos instruíram a deixar  nossos pertences no canto da sala e depois escolhermos nosso lugar para assentar.

Pensei: “- Sim, querida é óbvio! A gente entra e cada pessoa escolhe seu lugar para assistir o espetáculo.”

Ao entrarmos na sala, cerca de 20 cadeiras estavam espalhadas pelo espaço, posicionadas em direções aleatórias, umas distantes das outras, ocupando todo o espaço da sala.

A sala tinha uma parede de vidro com uma vista para o Rio Tejo com barcos a vela a navegar e a ponte 25 de abril, e abaixo de nós, digo, dessa construção, nada mais. Somente um vão onde víamos uma construção antiga e semi-abandonada.

A dupla de bailarinos sul-coreanos, Bari Kim e Namo Joo (@Barinamo), performaram dentro da abordagem Body-Mind-Centering® e no Poong-Gyung – o corpo como um espanta espíritos – que incide na pesquisa destes dois artistas – Fluidy Body – sobre a fluidez do corpo e do movimento,  na busca pela integração do movimento e do estado corporal, contemplando a improvisação, anatomia experimental e padrões de desenvolvimento.

Ao final da performance, houve um bate-papo com os bailarinos. Uma conversa informal e em inglês – o que foi ótimo, para já começar a desembolar essa minha língua de novo.

Perguntei a eles sobre o termo que inspira o trabalho de pesquisa “Poong-gyung”.

A palavra é coreana e tem 2 significados:

1) vista panorâmica, panorama, “landscape”; e

2) sino dos ventos; caçador de sonhos; que são aqueles enfeites que colocamos em lugares estratégicos nos ambientes com diferentes objetivos, entre eles “espantar os espíritos”.

Significados do Poong-gyung: “Landscape”, que é a vista panorâmica e abaixo a imagem de um sino dos ventos.

A dupla mora na Coreia do Sul e viaja a Europa todos os anos realizando workshops e apresentações performáticas. Fiquei bastante sensibilizada com a postura dos bailarinos em atender e responder às questões da plateia. Eles são muito educados, humildes e possuem uma energia maravilhosa que nos contagia, nos enche de amor.

A performance é uma resultante de um olhar sensível e profundo do “ser”. O processo criativo de escuta do ambiente e da relação do corpo e sua reação ao espaço é também um convite às pessoas que assistem a performance quando no “não-movimento” resta-nos somente o espaço e as pessoas para observarmos, ouvirmos, sentirmos.

Nesses momentos de pausa e “não-movimento”, nosso olhar fica sedento por “movimento”, ou seja, buscávamos todos, algo que se movesse: uns começam a olhar o movimento das águas do Rio, dos carros na ponte, dos aviões a riscarem o céu, do movimento das cabeças e expressões das pessoas em se entreolharem com um ponto de interrogação na cabeça e outras, simplesmente, a fecharem os olhos e mergulharem para dentro de si, sentindo o ritmo e o movimento do coração e do respirar dos pulmões.

A dupla ficaria mais um dia em Portugal para então regressar à Coreia.

O rastro que eles deixaram em meu coração é uma vontade/curiosidade em conhecer a cultura coreana. E um questionamento e reafirmação interna em confirmar que a dança, bem como todas as artes, cumprem um papel importante em disseminar a cultura de um país e de uma região.

Valorizar a arte vai além de uma salva de palmas. Parte da coragem, do respeito e da inteligência dos agentes que assumem a coordenação de seus governos em criarem oportunidades aos artistas de se expressarem, de se comunicarem. Não meramente entregar um palco, mas criar valor investindo em ações e projetos com oportunidades aos solos, pas de deux, duos, pequenos grupos não só para sobreviver mas para dar vida aos corpos, às vozes, aos pinceis, aos instrumentos que por séculos se mantém circunscritos num raio pequeno, como um cachorro correndo atrás do próprio rabo.

Assista o vídeo no IGTV.

O PONTO DE ENCONTRO JUVENTUDE

(Informações retiradas do site local em 28/02/2020)

Situado no topo de uma falésia, por cima do Cais do Ginjal, em Cacilhas, com uma vista privilegiada sobre o Rio Tejo, o Ponto de Encontro funciona como um espaço de convívio, de criação e de formação, onde os jovens, as associações e os grupos juvenis do Conselho de Almada desenvolvem projetos de âmbito sociocultural e/ou artístico.

Fundada em 1989, esta Casa Municipal da Juventude acolhe diversas atividades de formação e assegura o apoio a projetos e iniciativas de grupos/associações juvenis e de jovens, promovendo o usufruto da criação artística mediante a disponibilização de espaços para ensaio e para apresentação de espetáculos ou outras iniciativas de interesse para a comunidade juvenil.

Localização

Casa Municipal da Juventude – Ponto de Encontro

Rua Trindade Coelho, nº 3 Cacilhas

2800-297 Almada

CONTATOS: Tel.: 21 254 82 20 | E-mail: juventude@cma.m-almada.pt